Monday, January 31, 2005

Patriotismo

Relembro o 2004 e as bandeiras de Portugal nas varandas e nos vidros dos carros e penso: “Como os portugueses são nacionalistas!”. Eu não coloquei bandeira alguma em varanda alguma mas tenho a dizer que sou orgulhosamente português. Prefiro não exibir a bandeira do que a hastear no mesmo sítio onde se dependuram para secar as cuecas, as meias e as camisas. O orgulho de ser português não se mede pelo tamanho das bandeiras que se transporta mas pelas atitudes que se vai tomando para não se renegar a pátria. Mede-se na forma como, por vezes, somos embandeirados até ao momento em que dizemos ser portugueses. Eu explico. Já perdi várias vezes a oportunidade de travar e tragar conhecimento – Há conhecimentos que se tragam! - com uma boa dezena de gajas boas por ter dito que era português. Estou a falar a sério, senão visualize-se. Elas chegam-se àquilo que querem - Gostam de latinos mas não de portugueses. Bom elas chegam e começam com aquelas conversas clássicas de qualquer broeira: “Olá! Não nos conhecemos?”. Esta de perguntarem a outra pessoa se nós não a conhecemos é o cúmulo dos cúmulos! É uma amnésia quase tão caricata como chegar-se ao pé de um desconhecido e frasear: “Olá! Como me chamo?”. Eu, como ando com a memória que é uma lástima, digo: Talvez. O talvez é das palavras mais bonitas e úteis que existem. Está ela para um diálogo como o óleo para um rolamento – lubrifica o andamento. Bom, eu digo sempre talvez. Se estamos perante uma pessoa faminta ela insiste, continua: “Tenho a certeza que já te vi”. Fico lixado com as certezas das gajas de hoje, pá! Estão certas de tudo. Tudo lhes é evidente. A lucidez básica dá nervos! Muito bem, sou um sociólogo acima de tudo, gosto de estudar todos os esquemas. Digo: Talvez. Depois continuam: “Não costumas parar no bar X?” Irra! Falam de pessoas como se falassem de camiões?!?! Qualquer dia perguntam-me se não costumo estacionar no bar X. Digo que não. Desesperam mas não desaparecem. Recorrem às interjeições como forma de justificarem aquele passo em falso. Eu, condescendente como sempre, amparo-lhe a queda: “É provável que já nos tenhamos visto... Este é um mundo pequeno”. Elas gostam que lhes falem do mundo e do universo. Sentem-se seguras ao lado de gajos cosmopolitas, pessoas que sabem das coisas da vida, que conhecem a terra que pisam e as leis que regem o universo. Depois destas minhas aproximações indulgentes as conversas seguem os tramites normais da banalidade. Cigarro puxa palavra... Elas querem saber sempre mais. Não se esfregam em qualquer pessoa. Gostam de lhes conhecer as origens. Estão conscientes do peso hereditário na conduta dos homens, e perguntam: “Já agora... de onde és?” Detesto estes já agoras colocados para dar um ar de casualidade a uma pergunta que nunca lhes é casual. Já agora sou português de Portugal, digo. Portugal?!?! (leiam com sotaque britânico e façam aquela cara de rojão mal cozido, aquela cara em que um sorriso balofo é transformado numa caricatura horrenda de espasmo). Sim... português, porquê?! Fico logo irritado. Elas não se aguentam mais de 5 minutos e vão-se retirando de fininho.
Dizer que se é português de Portugal tem, para algumas mulheres, o mesmo efeito que se largar um peidinho engarrafado e mal cheiroso num local fechado. Eu não me renego, carago! Sou português de Portugal, venha a cara de rojão que vier.

11 Bocas:

Anonymous Anonymous Disse...

És Potuguês de Portugal e não há dúvida que recebeste a tua parte quando foi distribuído o machismo, essa característica "tão invulgar" nos homens Portugueses.

4:01 PM  
Blogger Temp Disse...

Pronto... Aí está uma verdade que nos define, pelo menos a alguns. Todas as outras que dizem a nosso respeito (portugueses) são puro preconceito.

7:10 PM  
Anonymous Anonymous Disse...

Nunca vi ninguém a concordar tão depressa que é machista. Realmente, nem tudo está perdido...neste país à beira mar plantado.

12:11 AM  
Blogger Temp Disse...

Vês… só prova que os machistas portugueses, por um lado, nem são tão machistas como as tuas más experiências te fizeram crer e, por outro, os que são realmente machistas têm nível, capacidade e inteligência.

9:57 AM  
Anonymous Anonymous Disse...

Nível, capacidade, inteligência e são machistas?
A mim parece-me um contrasenso, mas quem sou eu para me pronunciar...

8:46 PM  
Blogger Temp Disse...

Eu não sei quem és tu, mas tu podes satisfazer-me essa curiosidade deixando ficar o teu nome.

10:04 PM  
Anonymous Anonymous Disse...

Mesmo que deixe ficar o nome não ficas a saber quem eu sou. É que o nome não revela nada sobre a pessoa que o possui.
Além disso o anonimato torna as coisas mais interessantes.

1:15 AM  
Blogger Temp Disse...

Ai não revela! Experimenta os nomes Joaquim ou Joaquina Perdedor; António ou Antónia Falhado; etc... Experimenta e verás como isso determinará aquilo que és.
Fico à espera do nome.

11:09 AM  
Anonymous Anonymous Disse...

Coitados daqueles que deixam que o nome determine aquilo que eles são. Pior que esses, só os que recorrem aos signos do zodíaco para saber o que fazer.
O destino somos nós que o fazemos.De certeza que já ouviste falar nisso, não? ;-)
Por outras palavras, nós somos o produto das nossas acções.Acontece é que, até nisso e sobretudo nisso,há bons e maus profissionais.

8:17 PM  
Anonymous Anonymous Disse...

O segredo está em aceitar-mos aquilo que conseguimos fazer e nunca fazer mais do que aquilo que conseguimos aceitar.

9:10 PM  
Blogger Temp Disse...

Lindo!

1:03 AM  

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